LunaTtorres

A noite respira lentamente, como se sentisse seus passos se aproximando. A escuridão se torna cúmplice, e minha pele antecipa sua presença como a terra aguarda a chuva. Sua proximidade agita o ar; sua voz, baixa e próxima, se funde com meus pensamentos, misturando-se com o ritmo que me puxa para você. Aqui, não há relógios, apenas o pulso compartilhado, a música tranquila de nossa respiração, e aquele instante suspenso quando a tentação deixa de ser uma promessa e se torna verdade..

O vinho em seu copo treme quando você me olha assim, como se meus lábios fossem um segredo e você, o confidente perfeito. Falamos de tudo, rimos de tudo, mas debaixo da superfície outra linguagem começa a se formar. Você toma um gole, o vermelho do vinho ecoando o calor da sua boca, e a distância entre nós lentamente se dissolve, até que o ar parece muito fino para as palavras

Você se aproxima, e o ar muda. Não é perfume - é o calor que o rodeia, o traço que permanece no ar muito depois que você se foi. Sua mão toca a minha por acaso, e o mundo fica menor, reduzido àquele instante de reconhecimento. A conversa continua, mas eu só ouço o tremor tranquilo de sua voz, o som que desfaz cada nó dentro de mim. Quando você vai embora, o ar ainda queima suavemente, e eu me vejo te procurando em cada sombra, em cada canto do meu pensamento.

Nossos olhos jogam um jogo silencioso, movendo peças invisíveis que nos aproximam sem escapatória. Sua risada quebra minhas defesas, sua proximidade parece um sussurro na borda do toque. Ainda não há beijo, apenas aquele calor crescente, aquele pulso entre as batidas do coração, aquela urgência que transforma o mundo em ruído de fundo. E quando, finalmente, seus lábios encontram os meus, não é um beijo - é o selo final de um pacto escrito desde o primeiro olhar.

O sol se foi, mas sua sombra permanece, traçada em mim como uma memória invisível. Lembro-me da forma como a sua presença mapeou-se através dos meus pensamentos, como o seu olhar deixou faíscas silenciosas sob a minha pele. Fecho os olhos e volto para lá – não através do barulho, mas através do silêncio ardente que você deixou entre as minhas costelas. No espelho eu não me vejo, mas o eco de seus olhos, essa linha que me lembra que eu era seu - e será novamente.