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Como comunicar com um parceiro trans: expectativas, limites, consentimento

Como comunicar com um parceiro trans

Um pilar fundamental de qualquer relação satisfatória, seja ela romântica ou de amizade, é a comunicação aberta e honesta. Quando se partilha a vida com um parceiro transgénero, este compromisso de ouvir e cuidar torna-se ainda mais essencial. Não se trata de reinventar as regras da relação, mas de as aplicar com especial sensibilidade.

Se está numa relação deste tipo e não sabe como comunicar, este artigo é para si. O objetivo é fornecer-lhe alguns pontos-chave sobre como comunicar corretamente com o seu parceiro trans.

Como comunicar com um parceiro trans

Respeitar a identidade e a língua

A base de qualquer relação saudável é o respeito. E numa relação com uma pessoa transgénero, este respeito manifesta-se através da linguagem. Honrar a identidade do seu parceiro é uma expetativa básica.

A linguagem da identidade

O compromisso mais importante é a utilização sistemática e correta dos pronomes e do nome escolhidos pelo seu parceiro. Usar o nome antigo e os pronomes errados são actos de rejeição que, mesmo que não intencionais, podem ser dolorosos e minar a autoconfiança.

Se cometer um erro, a abordagem é simples: corrija-o rapidamente. O objetivo é validar o seu parceiro e não descarregar a sua culpa.

Terminologia preferida

Também é essencial dominar a terminologia correta. Utilize “transgénero” ou “pessoa trans”. Estes termos são validados e respeitosos. Por outro lado, deve evitar “transexual” ou “travesti”, que se referem à expressão do género, não à identidade, e são frequentemente utilizados como um insulto.

Não faça suposições

Por último, o respeito significa nunca fazer suposições.A identidade de género é totalmente diferente da orientação sexual. Nunca faça suposições sobre a orientação sexual atual ou as experiências passadas do seu parceiro. Respeite a forma como o seu parceiro se define atualmente.

Perguntas e curiosidade

Em qualquer relação nova, a curiosidade é natural. No entanto, deve ser gerida com rigor quando se interage com uma pessoa transgénero. Tenha em conta que o seu parceiro não é um instrumento de ensino concebido para responder a todas as suas perguntas sobre a transidentidade.

Limites à informação médica

A transição médica é uma informação privada. Nunca faça perguntas intrusivas, a não ser que o seu parceiro as coloque. Fazer este tipo de perguntas faz com que o seu parceiro sinta que tem de justificar a sua existência ou de se entregar a uma inspeção para ser considerado válido.

Regra de ouro para uma melhor comunicação

Se a informação não for necessária para a vossa relação, não pergunte. Precisa de saber os aspectos que afectam diretamente a vossa vida em conjunto e a vossa intimidade atual, mas não o relato biográfico detalhado da transição dele ou os pormenores do seu corpo antes.

É importante dar ao seu parceiro o controlo total sobre a história e o ritmo da partilha. É neste silêncio respeitoso que lhe vai oferecer o espaço emocional necessário para ser ele ou ela própria.

Manter o equilíbrio: Gerir as expectativas e o espaço emocional

Uma comunicação eficaz é uma troca que também deve ter em conta o papel e as necessidades do parceiro. Isto significa garantir que o casal mantém um equilíbrio saudável e duradouro.

Gerir as suas próprias expectativas

Um dos parceiros nunca deve ter expectativas em relação ao processo de transição do outro. O percurso, seja ele social, legal ou médico, pertence exclusivamente à pessoa trans. É importante evitar projetar os seus próprios desejos ou ansiedades neste caminho. A única expetativa razoável é a honestidade: o parceiro trans deve partilhar os passos que podem afetar a dinâmica do casal.

Por outro lado, é importante estabelecer expectativas para o parceiro trans em termos de apoio mútuo. O parceiro trans deve compreender e respeitar que o outro também tem limites emocionais. Deve evitar fazer do seu parceiro a sua única fonte de apoio e reconhecer que tem o direito de se sentir sobrecarregado ou de cometer erros. O apoio deve continuar a ser uma responsabilidade partilhada na relação.

Criar espaço para si próprio

Para ser um forte apoio, o parceiro não-trans deve encontrar fontes externas de apoio. Ele ou ela pode recorrer a grupos como :

  • Um grupo de apoio para parceiros de pessoas transgénero.
  • Um terapeuta.
  • Um círculo de amigos de confiança e informados.

Isto é essencial, uma vez que lhe permitirá exprimir os seus medos, desafios emocionais ou confusões sem sobrecarregar o parceiro transgénero. Ao partilhar a carga emocional fora do casal, o outro preserva a dinâmica da relação de qualquer ressentimento ou exaustão.

Da mesma forma, é vital comunicar claramente os limites de cada um. O parceiro cisgénero tem o direito de dizer não a certas perguntas ou conversas. Se o parceiro trans exerce pressão, o outro parceiro deve usar frases claras e não acusatórias. A capacidade de manter uma distância emocional saudável garante que o apoio oferecido é sincero e renovado.

Como comunicar com um parceiro trans

Consentimento e intimidade

A intimidade física e emocional requer uma comunicação constante e atenção às áreas de vulnerabilidade relacionadas com a disforia. O consentimento é um diálogo ativo e contínuo, especialmente no contexto da transição.

O consentimento como um processo contínuo

É importante lembrar que o consentimento deve ser entusiástico e revogável. Cada interação, quer seja verbal ou física, deve ser recebida com um “sim” claro e inequívoco.

A identidade de género não é consentimento. O facto de o seu parceiro se identificar como homem ou mulher, ou de ser transgénero, não dá qualquer indicação sobre os seus desejos ou limites sexuais.
O consentimento para a identidade é permanente, enquanto o consentimento para a intimidade é negociado de cada vez.

Consentimento e intimidade física

A exploração do corpo requer um cuidado e uma abertura sem paralelo. Discuta quais as partes do corpo que o parceiro trans gosta ou prefere evitar tocar. Esta discussão deve ser um espaço sem julgamentos onde o parceiro trans se sinta livre para definir os seus limites.

Para além disso, a utilização de terminologia sexual adequada é um pilar da intimidade respeitosa. Utilize apenas as palavras que o parceiro escolher para descrever os seus próprios órgãos genitais, sensações ou práticas. Nunca utilize termos baseados no sexo atribuído à nascença.

Consentimento e partilha de informações

O respeito pelo consentimento estende-se para além da esfera íntima e abrange a vida social. Deve discutir o consentimento antes de revelar aidentidade sexual do seu parceiro a alguém. Fazê-lo sem o seu consentimento é uma quebra de confiança e pode colocá-lo em risco. O parceiro cisgénero deve sempre considerar a informação sobre a transidentidade como sendo do seu parceiro e não sua.

A comunicação é a chave para gerir as complexidades da vossa relação. O amor e o respeito têm sempre precedência sobre a confusão ou o incómodo iniciais. O seu empenho na aprendizagem e na empatia é o gesto mais importante. Continue a comunicar e, acima de tudo, ponha estes pontos em prática para não deixar um resíduo desagradável na sua conversa com o seu parceiro trans.

Sobre o autor

Pamela Dupont

Ao escrever sobre relacionamentos e sexualidade, Pamela Dupont encontrou sua paixão: criar artigos cativantes que exploram as emoções humanas. Cada projeto é para ela uma aventura cheia de desejo, amor e paixão. Através de seus artigos, ela busca tocar seus leitores, oferecendo-lhes perspectivas novas e enriquecedoras sobre suas próprias emoções e experiências.

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