
Hoje em dia, muitos advogados, artesãos e pais continuam a sentir-se envergonhados e incompreendidos pela sua atração por mulheres trans. No entanto, alguns deles decidem confessar o indizível. De acordo com o relatório de 2025 do Provedor dos Direitos Humanos francês, 64% das pessoas transgénero em França são discriminadas devido à sua identidade de género.
Neste artigo, deciframos os desejos escondidos, os medos e os caminhos para relações autênticas.
Motivações mais profundas, para além das fantasias
Ginefilia
Os homens sentem-se atraídos por mulheres trans porque estas incorporam uma feminilidade independente do sexo biológico. Alguns homens entendem esta feminilidade como uma expressão autêntica da sua identidade de género, englobando traços físicos e psicológicos, como a gentileza, a empatia e a resiliência.
Perceção de hiper-feminilidade
As mulheres trans apresentam frequentemente uma expressão assumida de feminilidade, que capta a atenção de alguns homens. Cuidam da sua aparência com uma elegância que está em conformidade com os estereótipos de género. Um dos muitos testemunhos anónimos confirma-o: “Elas encarnam uma feminilidade conquistada, o que as torna excepcionais”.
Empatia e força
A maioria dos homens admira a força interior das mulheres. Muitos são atraídos e admiram a resiliência que as mulheres trans demonstram face à discriminação que sofrem. Este interesse resulta de uma profunda empatia por elas.
Desafiar as normas
Outra razão para esta atração vai para além das fantasias e da aparência: uma atração ligada a uma visão não binária das relações entre homens e mulheres. Alguns homens não se vêem como tendo uma identidade de género fixa; a sua própria fluidez pode influenciar as suas atracções, que podem ser variáveis e nem sempre corresponder aos princípios binários tradicionais.
O não-dito, os tabus e as contradições
O medo do julgamento social
Numa entrevista a um jornalista especializado em questões de género, um homem confidenciou: “Se os meus colegas soubessem, eu perderia o meu cargo executivo”. De facto, muitos homens que optaram por uma relação com uma mulher trans vivem com medo do julgamento social e da consequente perda de benefícios. Daí o silêncio e, por vezes, até a negação.
Fetichização tóxica
A fetichização das pessoas trans manifesta-se numa atração sexual que reduz os seus corpos a meros objectos de desejo. Isto coloca um grande problema, uma vez que esta fetichização tóxica continua a associar a transidentidade à sexualidade ou aos genitais. Para além disso, esta ideia é muitas vezes utilizada por homens cis como desculpa para afirmarem que não são transfóbicos, o que não garante o respeito pela privacidade ou o apoio aos direitos das pessoas trans.
O paradoxo da virilidade
A rejeição de uma relação com uma mulher trans esconde o medo de ser visto como gay. Estas relações levantam questões para alguns homens que, por vezes, têm dificuldade em se desligar da convicção de que uma mulher trans é essencialmente um homem. Assim, para eles, independentemente das “aparências”, o sexo com uma mulher trans seria equivalente ao sexo com um homem.
Tensões feministas
O receio de alimentar o debate entre as TERF (Trans-Exclusionary Radical Feminists) e as feministas inclusivas é uma preocupação real para alguns homens. De facto, os dois campos têm visões divergentes sobre a identidade de género e a inclusão de mulheres transgénero, criando tensão e conflito no seio do feminismo.
Desafios específicos das relações transgénero
O peso da discriminação sistémica
Uma relação com uma pessoa trans pode ser vista como um compromisso voluntário face aos desafios e à discriminação associados a esta orientação. As pessoas trans enfrentam dificuldades no acesso a certos cuidados médicos e a outros procedimentos administrativos e sociais. Nos Estados Unidos, por exemplo, sob a presidência de Trump, as pessoas trans enfrentaram restrições ao estatuto civil, impedindo-as de fazer valer os seus direitos e de beneficiar de certos serviços sociais.
As armadilhas da invisibilidade
Outro grande desafio para as pessoas trans é a recusa de alguns homens em assumir publicamente a relação por medo de reacções adversas. Alguns temem as consequências sociais de tal relação, enquanto outros são mais influenciados pelas pessoas que os rodeiam. Como resultado, alguns preferem manter-se discretos, ou mesmo fingir transfobia.
A questão do desejo pré-transição
A questão do desejo pré-transição explora as emoções, reflexões e experiências de um indivíduo relativamente à sua identidade antes de iniciar o processo de transição. Isto envolve o desejo de florescer com uma identidade de género diferente da que lhe foi atribuída à nascença. Como testemunha uma mulher trans: “Será que ele me ia amar se eu fizesse a transição?”
Conselhos para os homens: para relações respeitosas
Evitar a objectificação
Para uma relação harmoniosa com uma mulher trans, é essencial não reduzir a sua parceira ao seu corpo ou à sua história. Tratá-la desta forma seria fazer dela um objeto de desejo em vez de uma pessoa com sentimentos, pensamentos e aspirações.
Educar-se sobre as realidades trans
É importante compreender a disforia de género e dominar o vocabulário (cisgénero, não binário, etc.). Isto permitir-lhe-á comunicar melhor e acompanhar o seu parceiro no mundo dele ou dela.
Tornar-se um aliado ativo
Uma relação trans/cis requer apoio nas formalidades administrativas (como a mudança de estado civil). E não hesite em denunciar a discriminação no local de trabalho.
Gerir a sexualidade com respeito
Gerir bem a sua sexualidade é um fator essencial. Uma relação saudável com uma mulher trans implica uma comunicação aberta sobre os limites e os desejos de cada um.
Em conclusão, ainda há homens que têm reservas em reconhecer publicamente uma relação com pessoas trans. Embora as normas de masculinidade pareçam tornar tabu uma relação deste tipo, o facto é que uma relação trans/cis pode ser saudável, sem pôr em causa a masculinidade dos homens cis. Uma relação trans/cis não precisa de ser escondida, mas requer apoio total e boa comunicação por parte dos parceiros cis. Porque, independentemente da aparência, uma pessoa trans não é um objeto sexual, mas uma pessoa com coração.